A comunicação popular como
estratégia política para transformação social e a democratização da comunicação
foram temas centrais do “I Encontro Estadual de Comunicação da Articulação do
Semiárido Paraibano (ASA-Paraíba)”, realizado entre os dias 25 e 27 de março,
no Day Camp Hotel Fazenda, em Campina Grande.
No primeiro dia do encontro,
organizações de três territórios integrantes da ASA Paraíba apresentaram suas
experiências no campo da comunicação aos cerca de 40 participantes presentes no
evento utilizando a metodologia do carrossel. Foram partilhadas as experiências
do Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar, que atua em 11 municípios
no território do Cariri, Curimataú e Seridó Paraibanos, do Polo da Borborema,
rede de sindicatos rurais que atua em 14 municípios da região da Borborema e as
organizações Propac (Programa de Promoção e Ação Comunitária), Camec (Central
das Associações Comunitárias do Município de Cacimbas e Região) e Cepfs (Centro
de Educação Popular e Formação Sindical) que atuam em municípios do Médio
Sertão Paraibano.
As experiências apresentadas
têm em comum diversos pontos, como uma comunicação ascendente, enraizada nas
práticas locais, construída na perspectiva da transformação social, que é
resultado do fluxo de informações entre as famílias e sua comunidade e as
organizações que as representam e a sociedade. Esse trabalho promove a
socialização do conhecimento, das emoções, experiências e vivências que são a
base do fortalecimento de um modelo de agricultura familiar agroecológica e
mais além, um modelo de sociedade, baseada em princípios como a solidariedade e
a união.
Comunicação popular e
direito à comunicação
Ainda no primeiro dia do
Encontro, foi realizada a mesa de debate: “Comunicação Comunitária, comunicação
popular e direito a comunicação”, da qual participaram Glória Batista, da
Coordenação Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), Maria
de Fátima Pereira da Costa, agricultora da Comunidade Riacho dos Currais,
município de São Bentinho, no Sertão Paraibano e Rosa Sampaio, jornalista e
integrante do Fórum Pernambucano de Comunicação, de Recife.
Glória Batista iniciou sua
fala fazendo um resgate da trajetória da ASA no campo da comunicação: “A
criação da ASA surgiu como uma resposta a uma conjuntura em que o Semiárido era
mostrado como um lugar feio, sem vida, não próspero. Então nós desencadeamos o
nosso primeiro processo de comunicação, que foi entre as entidades, um intenso
processo no sentido de nos fortalecermos enquanto rede para dizer que sim, é
possível conviver aqui e o Semiárido é diferente de como é mostrado”, afirmou.
Fátima Pereira dos Santos
afirmou que os programas de mobilização social para convivência com o
semiárido, desenvolvidos pela ASA, representaram uma nova oportunidade para o
desenvolvimento da sua comunidade e expressou a importância de uma comunicação
libertadora, que permite a compartilhamento de saberes e a troca de
conhecimento está imbricada nessa construção: “A comunicação tem um poder
transformador, e a minha comunidade é fruto dessa transformação. Foi a partir
da chegada das cisternas, dos momentos de formação, que tivemos acesso ao
conhecimento e passamos a valorizar o local onde vivemos. Construímos nossa
capela, que foi o nosso primeiro espaço para reuniões, um espaço de
comunicação. Hoje possuímos uma unidade de extração de mel, um espaço de
vivências e uma cozinha comunitária onde beneficiamos frutas para vender para o
PAA e o PNAE, já temos um boletim comunitário com a nossa experiência e
recebemos visitas de outras comunidades e de escolas”, disse a agricultora.
Rosa Sampaio falou sobre a
necessidade dos movimentos sociais compreenderem a importância de enxergar a
comunicação como um direito e como um serviço público, que precisa de controle
social, de modo que possa servir ao interesse público, como proposta para isso,
citou a campanha de coleta de assinaturas para uma lei de iniciativa popular
que propõe a democratização da mídia: “Enquanto a gente não conhecer e não
acessar esse direito, vamos continuar tendo muita dificuldade de nos sentir
representados na mídia tradicional que está aí, que não considera as nossas
experiências e que é uma das maiores responsáveis pela estigmatização da vida
no campo e a criminalização das lutas. Nós temos direito de sermos
representados, precisamos lutar por outro modo de visibilidade”.
Após a mesa, houve um debate
sobre o conteúdo das três falas, onde o grupo refletiu sobre o trabalho de
comunicação realizado pelas organizações da ASA Paraíba em seus territórios e
de que forma ele contribui para a construção do projeto de convivência com o
Semiárido defendido pelo conjunto de suas organizações. O debate abrangeu ainda
uma análise do contexto atual de extrema concentração dos meios de comunicação,
criminalização dos movimentos sociais e como está se construindo focos de
resistência a essa realidade.
No segundo dia de evento,
três oficinas aprofundaram o diálogo em torno dos temas: Rádio, Ativismo e
Mobilização Social e Redes Sociais. Nestes espaços, os participantes puderam
aprofundar as discussões sobre as questões relativas a cada um dos três temas.
Na oficina de Instrumentos de Ativismo e Mobilização Social foi feita uma
reflexão sobre a contribuição dos diversos coletivos de agitação e propaganda
no processo de lutas sociais na política desde o período da Revolução Russa até
os dias atuais. Foi apresentado como proposta o desencadeamento de um processo
participativo para a reconstrução da logomarca da ASA Paraíba e a produção de
um vídeo sobre os 22 anos de história da Articulação no Estado. Além disso, os
participantes ainda produziram um painel ilustrativo com o lema do último
Encontro Nacional da ASA (Enconasa): “É no Semiárido que a vida Pulsa! É no
Semiárido que o povo resiste!”.
A oficina de Rádio debateu o
papel e o lugar da ferramenta na construção do projeto político da ASA, além de
lançar um olhar sobre experiências bem sucedidas no campo das chamadas “Rádios
Livres”, na conhecida e necessária, “Reforma Agrária do Ar”, numa alusão ao
movimento que se contrapõe a criminalização das rádios de inspiração
comunitária e defende a democratização do acesso ao rádio.
O grupo que aprofundou o
tema das Redes Sociais, foi além e debateu as novas tecnologias, quais as
implicações do seu uso e de que forma podemos estar presentes nas redes, sem
deixar de ter um olhar crítico para esta ferramenta, seus desafios e
limitações.
O terceiro e último dia do
Encontro foi dedicado aos encaminhamentos e definições práticas para fazer
avançar no estado o processo de construção coletiva de uma política de
comunicação da rede e também para pensar em formas de fazer as discussões do
encontro serem irradiadas para todos os territórios, para um conjunto mais
amplo de pessoas e organizações. Entre os encaminhamentos está a elaboração de
uma agenda de atividades coletivas, a construção da fanpage estadual, o
mapeamento das organizações do estado e das rádios comunitárias, a preparação
para o encontro regional de comunicação, que ocorrerá em Mossoró-RN e o
fortalecimento da campanha pela implementação da lei da mídia democrática.
O Encontro Estadual de
Comunicação faz parte de um processo de eventos de formação destinados a
debater o lugar e a importância da comunicação na construção do modelo de
convivência que vem sendo construído pelas organizações da ASA em todo o
Semiárido Brasileiro. Também faz parte das comemorações dos 15 anos da
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) e dos 22 anos da ASA Paraíba.
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